**O Ontem e o anjo…**

 Ontem eu caminhei pela estrada, estava frio, o vento era tão forte que eu sentia as pontas dos meus dedos adormecerem. A noite estava chumbo, escura e as pessoas comprometidas com seus cobertores e abraços se escondiam da minha saudade…
A estrada era torta, ontem… Não era um caminho, pois não levava a lugar nenhum, era só uma estrada de silencio, e ele, “o silencio” tomou conta dos meus sonhos, diante da escuridão lá fora meu coração se calou.

 Flutuei sobre o meu mundo e da janela da minha alma vejo a garoa fina pulverizar as plantas que ganham um tom prateado mesmo sem luar, e eu vi um anjo…
Ontem eu quis uma poesia completa que aquece em verso e prosa, todo o silencio do frio, colori o desbotado do dia nublado e dá á noite cinza um brilho sem igual e eu vi um anjo…

O anjo me olhou com olhos de amanhecer, me olhou de longe sem tocar, não se aproximou, mas me fez acreditar que todo o sol se faria presente no meu adormecer e todo o cinza da minha noite se fez quente, te fez presente e o cheiro do teu calor tem a essência do desassossego.

 O frio de ontem hoje é brisa, bate nos meus cabelos ressecados embaraçando-os, ouço o som da tua chegada e você vem como uma manhã de domingo, lento, calmo e eu tenho pressa, sentir teu coração batendo sereno e eu quero mais… Abraçar-te por dentre a roupa, extrair suor inocente da pele fria…

 E quando o ontem virou hoje o anjo me disse:
_ Enquanto houver você ai e eu aqui pelo som do teu sorriso eu vou me guiar.

 Eu tenho um anjo, o som do seu sorriso é a melodia precisa da minha felicidade, o cheiro do seu conforto é o perfume ideal das minhas manhãs nubladas, a certeza da sua paz é a harmonia da minha alma, sua felicidade vem em todas as cores existentes no arco-íris. Eu tenho um anjo que não precisa de asas, mas quando me abraça eu sinto o céu, um anjo que consegue trazer no seu toque a valentia do mar revolto e a calmaria de um fim de tarde.

Protegido da noite que invade o quarto, eu guardo um anjo… De peito largo, sorriso farto, de olhos tímidos no meu abraço, ele se perde em mim e nele eu me acho. Nos limites da realidade e utopia apago as luzes da certeza e jogo em ti todas as minhas vontades, te entrego todos os meus desejos e te faço culpado das minhas alegrias, por que sorrir requer motivos, e você é o meu anjo, razão inconstante que vive na outra margem do meu mundo, pra me fazer sorrir.

Não fizemos pacto com o tempo, não compramos relógios novos…
Meu compromisso é com a minha vontade incontrolável de ser feliz, se não ontem, que seja agora, por que nas ruas cheias de semáforos fechados que nos impedem a passagem, os mendigos que moram em nós nos cabelos em desalinho, nas barbas por fazer, nos desejos que nos preenchem na falta que nos fazemos um ao outro, não pensamos no tempo que perdemos mas sim em todo tempo que ganhamos enquanto o ontem virou hoje e eu estava contigo…

para o meu anjo

Ely.